POESIA E ADULTÉRIO - Em 1999 o Pofessor Fernando Santoro publicou pela Editora Sette Letras o livro "Imaculada". Uma coletânea de poemas e textos poéticos tratando de temas como o amor, a paixão e o adultério. Tudo calcado nos seus estudos sobre Filosofia Antiga e conceitos da poética de Aristóteles. Sobre esse tema Aristóteles escreveu: "Falemos da poesia - dela mesma e das suas espécies, da efetividade de cada uma delas, da composição que se deve dar aos mitos, se quisermos que o poema resulte perfeito, e, ainda, de quantos e quais os elementos de cada espécie e, semelhantemente, de tudo quanto pertence a esta indagação - começando, como é natural, pelas coisas primeiras. A epopéia, a tragédia, assim como a poesia ditirâmbica e a maior parte da aulética e da citarística, todas são, em geral, imitações. Diferem, porém, umas das outras, por três aspectos: ou porque imitam por meios diversos, ou porque imitam por modos diversos e não da mesma maneira".
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Leiam, abaixo, a poética de Santoro.
Soneto
Casmurro
-
Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
Pétalas
de nuvem, cálice doce
Teus
lábios todos, laivos de ternura,
Dizem
que guardam o bem que um anjo trouxe...
-
Vem, beija-flor. Provar deste meu mel
Se
tens desejo, hás de ter coragem
Supera
a paliçada do quartel,
Me
livra do espinhaço selvagem...
Roçando-me
passando entre espinhos,
Descubro
agonizando uns passarinhos:
“Perde-se
a vida, ganha-se a batalha!”
Me
diz um desses mártires do amor...
E
torno – vendo: espinhos são da flor!
“Ganha-se
a vida? Perde-se a batalha...”
(Ora!)
Safira
Íris,
Mais
que alga marinha, verdíssimas
Que
no vento a nuvem, sutilíssimas
Que
asas de beija-flor, trementes.
Cílios,
Mais
que agulha de fiar, finíssimos
Que
a noite mais funda, escuríssimos
Que
um veludo puro, envolventes.
Lábios,
Mais
que a tez da papoula, escarlates,
Que
o hálito das brasas, quentíssimos,
Que
a luz da preamar, vazantes.
Nos afronautas
A
tua roupa branca de sexta-feira
não
desvendava o teu corpo ainda mais branco
mas
suspendia-o por sobre o chão
quando
dançavas ao sabor dos tambores
Eu
não decifro o teu sorriso
não
sei se é inocente ou cínico ou vaidoso
Eu
não decifro os teus olhos
não
sei se fogem ou se procuram ou se escondem
Tu
és para mim a página em silêncio,
és
o lençol arrumado, o vestido no armário,
Tu
és o branco substantivo onde eu branco verbo
esquecendo
tudo, não pensando em nada
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