Parmênides nasceu em Eleia, uma cidade itálica fundada na segunda grande expansão colonial grega que levou a língua e a cultura homéricas para todo o Egeu e Mediterrâneo Ocidental. O Filósofo viveu no fim do sexto século antes de Cristo. Há notícias de que se encontrou e talvez tenha sido discípulo de Xenófanes de Colofão que, em seus poemas sapienciais, criticava o antropomorfismo dos deuses tal como apareciam nas poesias tradicionais, de Homero e Hesíodo. Esta filiação escolar parece, no entanto, ser muito mais devida a uma proximidade doutrinal considerada e propagada pela Academia de Platão do que a fatos históricos. Parmênides vive ainda imerso na cultura épica e dela extrai, primeiro, a métrica de seu poema, o hexâmetro dactílico, o que mostra que o poema foi elaborado tendo em vista o desempenho de sua transmissão oral e em consonância com tal tradição. Além disso, também extrai conteúdos dessa tradição épica, como elementos de sua teologia. A deusa díke, a Justiça com seu tom exortativo, e a imagem do portal da Noite e do Dia, por exemplo, já estão presentes nos poemas de Hesíodo. Vários deuses dos catálogos épicos figuram no poema, e desempenham funções importantes. O Poema incorpora até mesmo passagens textuais mais extensas dessa tradição. Como no fragmento B8: os versos em que a Necessidade prende o ente em sua circunstância são um verdadeiro palimpsesto dos versos homéricos sobre as amarras que prendem Ulisses no mastro do navio a fim de suportar o canto de duas cabeças das sereias (Odisseia, XII, 158-164). Parmênides, segundo a inscrição em sua homenagem encontrada sobre uma estela em Vélia (a cidade romana que se instaura em Eleia e subsiste até hoje), poderia ter sido de uma família ou de um clã de médicos: “filho do Curador (Apolo)”.
ΠΑ[Ρ]ΜΕΝΕΙΔΗΣ ΠΥΡΗΤΟΣ ΟΥΛΙΑΔΗΣ ΦΥΣΙΚΟΣ
PA[R]MENIDES FISICO FILHO DE PIRETO DA FAMILIA DO CURADOR
Nesse contexto ainda forte da cultura tradicional homérica, surgem novos discursos sapienciais que buscam o conhecimento pela contemplação do procedimento autônomo das coisas naturais. São os primeiros filósofos, que Aristóteles denominou physikói, porque tratavam Da Natureza, perì phý seos.
Parmênides insere-se, sem dúvida, entre esses pensadores originários, não só porque o título de seu poema já o diz, mas sobretudo pela chamada segunda parte do poema, que trata da geração das coisas vivas, dos astros celestes e coisas tais. Mas o discurso de Parmênides traz uma característica radicalmente inaugural para a história dos textos sapienciais: ele toma o ente – tò eón – como o tema central e universal para compreender a natureza do real. Ele instaura o tema primeiro da filosofia ocidental: a relação entre ser e pensar. O problema da verdade aparece não mais circunstancialmente na honestidade ou na venerabilidade do testemunho, mas na relação direta entre ser, pensar e dizer, eixo universal do conhecimento da realidade. Parmênides inaugura a filosofia como ontologia. Por isso, é o filósofo que lança, em palavras e pensamentos, as bases que sempre voltarão a servir de questionamento ao longo de toda a metafísica ocidental. Assim, o Poema é tanto uma fonte inesgotável de pesamento, como também a soleira monumental sempre firme e presente do edifício filosófico de nossa civilização.
**************
Leia AQUI os fragmentos do poema de Parmênides.
**************
Leia AQUI os fragmentos do poema de Parmênides.
Nenhum comentário:
Postar um comentário