domingo, 18 de setembro de 2016

Rede de Filosofia Antiga





O Laboratório Ousia de Filosofia Antiga, coordenado pelo Professor Fernando Santoro, no IFCS, agora é integrante da Rede de Filosofia Antiga e vai participar da videoconferência de inauguração com um ponto de transmissão e recepção no dia 28 de setembro, às 14 horas, horário de Brasília. Na ocasião o Dr. Lucas Angioni, da UniCamp, vai fazer uma conferência que terá como tema "A metafísica de Aristóteles: categorias, prioridade e causalidade." Que tal? Todos os alunos e pesquisadores estão convidados. O Professor Fernando Santoro é um dos integrantes da Comissão Científica responsável pelo projeto. O ponto de transmissão será na Sala 325-D, do IFCS.

A Rede de Filosofia Antiga é uma iniciativa do Departamento de Filosofia, da Universidade de Brasília, e tem por objetivo integrar nacionalmente todos os grupos de estudo e pesquisa em Filosofia Antiga. Através da internet serão apresentados seminários e palestras, com transmissão ao vivo por um canal exclusivo do Youtube, que pode ser acessado AQUI.

A Rede de Filosofia Antiga (REFA) traduz o resultado consolidado das crescentes relações institucionais entre os principais grupos de pesquisa em filosofia antiga no Brasil. O objetivo é o de potencializar o debate em escala nacional, utilizando para isso as ferramentas de comunicação à distância. Pesquisadores e grupos de pesquisa que formam o network participam de seminários, transmitidos ao vivo pela WEB, com periodicidade e calendário definidos pela Comissão Científica.

O seminário, ministrado presencialmente na Cátedra UNESCO Archai do PPG Metafísica da UnB, será transmitido pelo Youtube. A Rede é um projeto in fieri, portanto os grupos de pesquisa que desejem integrar a Rede e quiserem participar desde suas sedes da discussão que se seguirá ao seminário, podem entrar em contato com o coordenador Gabriele Cornelli através do email gabriele.cornelli@gmail.com 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Um poema que é um tratado filosófico




Parmênides nasceu em Eleia, uma cidade itálica fundada na segunda grande expansão colonial grega que levou a língua e a cultura homéricas para todo o Egeu e Mediterrâneo Ocidental. O Filósofo viveu no fim do sexto século antes de Cristo. Há notícias de que se encontrou e talvez tenha sido discípulo de Xenófanes de Colofão que, em seus poemas sapienciais, criticava o antropomorfismo dos deuses tal como apareciam nas poesias tradicionais, de Homero e Hesíodo. Esta filiação escolar parece, no entanto, ser muito mais devida a uma proximidade doutrinal considerada e propagada pela Academia de Platão do que a fatos históricos. Parmênides vive ainda imerso na cultura épica e dela extrai, primeiro, a métrica de seu poema, o hexâmetro dactílico, o que mostra que o poema foi elaborado tendo em vista o desempenho de sua transmissão oral e em consonância com tal tradição. Além disso, também extrai conteúdos dessa tradição épica, como elementos de sua teologia. A deusa díke, a Justiça com seu tom exortativo, e a imagem do portal da Noite e do Dia, por exemplo, já estão presentes nos poemas de Hesíodo. Vários deuses dos catálogos épicos figuram no poema, e desempenham funções importantes. O Poema incorpora até mesmo passagens textuais mais extensas dessa tradição. Como no fragmento B8: os versos em que a Necessidade prende o ente em sua circunstância são um verdadeiro palimpsesto dos versos homéricos sobre as amarras que prendem Ulisses no mastro do navio a fim de suportar o canto de duas cabeças das sereias (Odisseia, XII, 158-164). Parmênides, segundo a inscrição em sua homenagem encontrada sobre uma estela em Vélia (a cidade romana que se instaura em Eleia e subsiste até hoje), poderia ter sido de uma família ou de um clã de médicos: “filho do Curador (Apolo)”. 

ΠΑ[Ρ]ΜΕΝΕΙΔΗΣ ΠΥΡΗΤΟΣ ΟΥΛΙΑΔΗΣ ΦΥΣΙΚΟΣ 

PA[R]MENIDES FISICO FILHO DE PIRETO DA FAMILIA DO CURADOR 

Nesse contexto ainda forte da cultura tradicional homérica, surgem novos discursos sapienciais que buscam o conhecimento pela contemplação do procedimento autônomo das coisas naturais. São os primeiros filósofos, que Aristóteles denominou physikói, porque tratavam Da Natureza, perì phý seos. Parmênides insere-se, sem dúvida, entre esses pensadores originários, não só porque o título de seu poema já o diz, mas sobretudo pela chamada segunda parte do poema, que trata da geração das coisas vivas, dos astros celestes e coisas tais. Mas o discurso de Parmênides traz uma característica radicalmente inaugural para a história dos textos sapienciais: ele toma o ente – tò eón – como o tema central e universal para compreender a natureza do real. Ele instaura o tema primeiro da filosofia ocidental: a relação entre ser e pensar. O problema da verdade aparece não mais circunstancialmente na honestidade ou na venerabilidade do testemunho, mas na relação direta entre ser, pensar e dizer, eixo universal do conhecimento da realidade. Parmênides inaugura a filosofia como ontologia. Por isso, é o filósofo que lança, em palavras e pensamentos, as bases que sempre voltarão a servir de questionamento ao longo de toda a metafísica ocidental. Assim, o Poema é tanto uma fonte inesgotável de pesamento, como também a soleira monumental sempre firme e presente do edifício filosófico de nossa civilização.

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Leia AQUI os fragmentos do poema de Parmênides.

A vida de Xenófanes







Xenófanes nasceu na cidade de Colofão, na Jônia, em torno de 570 a.C. Foi contemporâneo de Anaximandro, respirou os ares dos filósofos naturalistas da região e, sobretudo, seu pendor pela agonística em torno dos princípios. Com a invasão dos Persas, fugido ou banido, migrou em direção ao ocidente por volta de 545, passando por várias cidades gregas, pela Sicília, pelo sul da Itália, sempre realizando sua atividade de rapsodo. Como rapsodo, interpretava certamente Homero, Hesíodo e também poemas de própria autoria. Pelas suas considerações críticas à épica arcaica se pode imaginar que suas interpretações não fossem somente récitas inspiradas desprovidas de reflexão, tal como Platão caricaturou a atividade dos rapsodos no diálogo Íon . Esteve presente na fundação de Eleia em 540 e muito provavelmente ali manteve intensa atividade intelectual e letiva. Encontrou-se certamente com o jovem Parmênides, mas as notícias de que foi o fundador da Escola Eleata decerto decorrem do desejo de transformar algumas afinidades de prática e doutrina em grandes encontros históricos. De toda forma, a recepção do poeta põe na conta de sua nova teologia, crítica do antropomorfismo de Homero e Hesíodo, a ideia e teoria do Uno, assumida de diversas maneiras pelos filósofos que atuaram em Eleia. Além dos poemas de que nos sobraram fragmentos, também se tem notícia de que escreveu outros poemas épicos, como a Fundação de Colofão e a Fundação de Eleia. Xenófanes viveu mais de noventa anos, conforme seus próprios versos autobiográficos.