A epistemologia de Permênides
O desvelar do fazer filosófico - Parmênides foi um filósofo épico filho de Piros e nascido em Eléia, atual
Vélia na Itália Meredional, mas, sobre seu nascimento e idade ainda pairam
muitas dúvidas. Para Diógenes de Laércio sua akmé situa-se na 64ª Olimpíada, entre 504 e 500 a. C.. Entretanto, Platão diz que o velho
Parmênides, com 65 anos, teria encontrado o jovem Sócrates que em 500
a.C., com 70 anos, seria condenado a morte. Portanto, é provável que o
encontro possa ter ocorrido entre 451 e 449 a.C., gerando, com isso, uma
divergência de datas. Pela data de Diógenes, o Filósofo, teria 80, e não os 65
dito por Platão, mas se considerarmos que sua akmé deve ter ocorrido em
535 a. C., é possível aceitar o relato platônico. Aceitando o cálculo de Platão
para a idade do Eleata, cairia por terra a opinião de que Parmênides teria
sido discípulo de Xenófanes. Não excluindo a possibilidade de que ambos,
em idade avançada, tenham se encontrado, mas rechaça as dúvidas sobre a
origem da “Escola Eleática”.
De seu poema intitulado "Sobre a Natureza", sobreviveu apenas
fragmentos retirados de obras de outros autores. O texto é dividido em duas
partes: primeiro, o caminho para encontrar A Deusa e, posteriormente, sua
própria fala. Embora escreva em versos, hexâmetro dactílico, é clara a
filosoficidade da obra e para aqueles que a questionem, vale lembrar que
Platão transformou o diálogo, antes uma simples e comum forma de
comunicação em um poderoso meio de transmissão de ideias
inquestionavelmente filosóficas. Encontra-se em Parmênides o primeiro
registro de um programa para o "Saber", ou seja, a criação de caminhos,
métodos, para descobrir a verdade. Neste programa apresentado pela
Deusa, alcançada por intermédio da Justiça, há três caminhos, dois
praticáveis e opostos e um inteiramente insondável aos mortais. Os primeiros
caminhos são o da Alethéia (Verdade/Desvelar), no qual encontra-se a
verdade imutável, e da Doxá (Opinião), isto é, as opiniões onde "mortais que
nada sabem forjam, bicéfalos"(SANTORO,2011). Já o caminho insondável
seria a busca pelo o que não é. Com isso, ao contrapor um percurso que leva
ao desvelar da verdade a um com falsas opiniões e sem fé verdadeira, fica-se norteado a forma de pensar e conhecer. Assim sendo, estão lançadas as
ideias que servem até hoje como base para boa parte da episteme ocidental
e que em Aristóteles alcançariam sua maturidade.
Os caminhos apreensíveis
são baseados no reconhecimento da Necessidade do que existe e na
impossibilidade de sua inexistência, consequentemente da negação das
mudanças.
No roteiro é proposto ao "iluminado" que se instrua "tanto do intrépido
coração da Verdade persuasiva quanto das opiniões de mortais em que não
há fé verdadeira”(SANTORO,2011). Não basta saber como alcançar a
verdade, é imprescindível ser capaz de reconhecer a falsidade. A opinião dos
mortais consiste em não reconhecer a impossibilidade de galgar o caminho
do não-Ser, causando uma grande confusão. Por isso, um questionamento
válido é um dos motivos que levam a ininteligibilidade do caminho do não-Ser,
e para respondê-lo precisamos antes compreender as propostas acerca do
Ser e não-Ser. Vê-se presente, embora talvez de forma insipiente, nos
fragmentos abaixo a explanação de três conceitos canônicos para o "bom
pensar": o princípio da não contradição, da identidade e da ontologia.
Fragmento 2
1 Pois bem, agora vou eu falar, e tu, prestes atenção ouvindo a palavra
2 acerca das únicas vias de questionamento que são a pensar:
3 uma, para o que é e, como tal, não é para não ser,
4 é o caminho de persuasão — pois segue pela Verdade —,
5 outra, para o que não é e, como tal, é preciso não ser,
6 esta via afirmo-te que é uma trilha inteiramente insondável;
7 pois nem ao menos se conheceria o não ente, pois não é realizável,
8 nem tampouco se diria:
Fragmento 3
...pois o mesmo é a pensar e a ser.
Fragmento 8 […]
11 Assim, ou é necessário existir totalmente ou de modo algum.
12 Tampouco que do ente, nunca força de Fé permitirá
13 surgir algo para além do mesmo; por isso Justiça nem vir a ser
14 nem sucumbir deixa, afrouxando amarras,
15 mas mantém; a decisão sobre tais está nisto:
16 é ou não é. Mas já está decidido, por Necessidade, […]
(SANTORO, 2011, p. 105; 111)
Assim, está dado o princípio da identidade, o Ser é o Ser, o da não
contradição, se o Ser é seu contrário obrigatoriamente não é, e a Ontologia,
os questionamentos sobre o Ser. Podemos com isso inferir, segundo o
fragmento 8, que o que pode ser pensado e dito deve existir necessariamente
e que o que não pode ser pensado nem dito não pode existir, ou seja, o Ser é
e o não-Ser não é. Além disso, fica subentendido uma visão monista-idealista
da existência, na qual a divisão entre a realidade concreta e o pensamento
abstrato é inexistente. Logo, para que possamos dizer que algo É devemos
ser capazes de criá-lo em nossa mente, de forma que nem tudo o que
pensamos é passível de comprovação empírica, mas tudo que
experienciamos obrigatoriamente tem que poder ser idealizado.
Dada a
impossibilidade de termos a experiência sensível do Nada, por motivos
óbvios, e também de pensá-lo, pois se o pensarmos ele deixaria de não-Ser
e se tornaria um Ser que existe no pensamento, então é completamente
impossível conhecermos qualquer informação do não-Ser.
A partir do momento em que é criado seu monismo idealista, no qual é
preciso abandonar as experiências sensíveis para poder desvelar a verdade,
a realidade única e imutável é uma saída necessária. Se explicamos a
realidade a partir das experiências sensíveis e, levando em consideração que
o mundo sensível é constantemente alterado, teremos como consequência
uma realidade mutável, onde o Ser não é, mas está sendo. Para Heráclito
uma ideia plausível, para Parmênides uma loucura da multidão. Pois o Ser é
e o não-Ser não é, justamente esse "devaneio" compartilhado é onde reside
o caminho da Doxá, isto é, o caminho dos mortais de duas cabeças que
creêm na mutabilidade da realidade. Essa crença mistura o Ser e o não-Ser,
o que de acordo com o fragmento 8 é algo absurdo, pois tudo que há É ou
não-É.
O Ser só existe de forma plena, completa, negando assim as
transformações.
É importante frisar que o Poeta não nega a captação por meio dos
sentidos das transformações nos seres, mas sim nos mostra o quão absurda
ela é à luz da razão. Dessa forma, o quão falho são esses sentidos que nos
fazem acreditar em mentiras, já que a mudança não passa de ilusão, uma
crença sem fé verdadeira. Mas afinal, o que é a mudança? O que é o Devir?
Mudança, é quando um Ser deixou de Ser o que era, mas ainda não se
tornou o que virá a ser, e o devir, a noção de Presente, o vir a ser é
exatamente isso, uma ruptura no Ser. Uma aberração lógica que fere seus
recém descobertos princípios de identidade e de não contradição. Um átimo
que há a conjunção do Ser e do não-Ser, jamais poderia ser aceito pelo,
segundo Nietzsche, Filósofo feito de gelo.
Resta agora a via da Alethéia que, segundo o autor, é a via em que será
desvelado a verdade imutável. Que verdade seria esta? Ora, nada mais que
o reconhecimento da sentença "O Ser é e o não-Ser não é". Em outras
palavras, a verdade consiste em reconhecer a Unidade e Imutabilidade da
realidade, ou seja, que a realidade É e não um simples vir a ser. O respeito a
seus princípios de identidade e não contradição vem como consequência
necessária da plena apreensão de seu "axioma".
Independentemente da validade lógica ou substantiva da teoria de
Parmênides, a coerência de seus argumentos é perfeita. Por isso torna-se
um real opositor à "Teoria de conhecimento" proposta por Heráclito, fazendo
com que boa parte da discussão filosófica grega seja uma tentativa de
escapar da ideia de Heráclito e do monismo parmenidiano. A grande
importância dos Filósofos Épicos e Trágicos consiste nem tanto em suas
respostas e explicações – embora pouco ou nenhum avanço filosófico tenha
havido de seu tempo até hoje, e que com certeza não sejamos mais sábios
que Parmênides, Sócrates ou Aristóteles –, mas em seu grande poder
criador, de originadores da filosofia, e nos questionamentos, ao proporem
questões que até hoje carecem de uma resposta definitiva.
(Trabalho em grupo da disciplina Filosofia Antiga 1, do Professor Fernando Santoro, feito pelos alunos Jefferson Lopes, Daniel Abreu, Aline Mota, Joyce Brandão, Jonathan e Suelen)
Nenhum comentário:
Postar um comentário