O objetivo desta postagem é fazer um brevíssimo comentário dos dois primeiros capítulos da obra "Metafísica" de Aristóteles. Também, a tentativa é fazer uma análise superficial, mas correta, dessa obra, visando criar um texto acessível para pessoas que, por uma razão ou outra, se interessaram pelo pensamento aristotélico.
A "Metafísica" é uma das obras mais importantes do pensamento ocidental. Até hoje, essa obra possui pontos que ainda servem de base para certos debates filosóficos. Mas é bom alertar que essa obra possui algumas passagens muito difíceis e, até mesmo, obscuras. Felizmente, nosso intuito é analisar os capítulos I e II que não exigem maiores malabarismos filosóficos.
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CAPÍTULO I
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Aristóteles começa a sua obra com a seguinte afirmação: "Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer (...)". O Capítulo I da "Metafísica" é uma tentativa de explicar essa frase; mais, é uma tentativa de estruturar o que seja o conhecimento. Desse modo, o Capítulo I caminha pela epistemologia, ou teoria do conhecimento, aristotélica. Diferente de Platão, Aristóteles aceita que o conhecimento começa na sensação.
Como visto, para Platão, na "A Alegoria da Caverna", o conhecimento sensível é falso ou ilusório, somente a alma racional é capaz de alcançar o verdadeiro conhecimento que não é capturável pelos nossos sentidos. Essa tese é combatida por Aristóteles que valorizará a experiência sensível como sendo o ponto de partida para formas de conhecimento mais complexas.
A partir do texto "A Metafísica", podemos afirmar que o conhecimento passa por 5 etapas, num crescente de complexidade:
1) SENSAÇÃO
2) MEMÓRIA
3) EXPERIÊNCIA
4) ARTE OU TÉCNICA
5) TEORIA OU CIÊNCIA
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Assim, a Sensação seria o tipo de conhecimento mais simples, enquanto a Teoria seria o tipo de conhecimento mais complexo.
A Sensação está ligada aos nossos 5 sentidos (audição, olfato, paladar, tato e visão). Nossos sentidos propiciam o aparecimento d'algum tipo de sensação. Por exemplo, a dor decorrente de se colocar a mão no fogo nos avisa que o fogo é perigoso para a constituição física humana.
A Memória é um passa além da Sensação. Podemos entender que a memória é a capacidade de agarrar alguma sensação passada. Por exemplo, a memória tenta "agarrar" a sensação da dor no momento que alguém percebe uma fogueira perigosamente próxima. Assim, a memória tem o poder de alertar sobre uma situação que pode gerar efeitos desagradáveis. Importante ressaltar que, para Aristóteles, alguns animais não racionais possuem memória, como, por exemplo, as abelhas.
A Experiência pode ser entendida como a capacidade humana de aprender com a memória, criando relações desta com os dados sensoriais. Assim, a memória nos avisa que fogo é algo perigoso, mas a Experiência nos mostra maneiras de lidar com uma fogueira perigosamente próxima. Por exemplo, pode-se jogar água ou areia no fogo, pode-se cobri-lo com algum material grosso, pode-se, com algum risco, tentar atravessá-lo, ou, na pior das hipóteses, pode-se cometer suicídio porque há nada que se possa fazer para tentar salvar a própria vida.
O conhecimento ligado à Arte possui duas características que podem se encontrar juntas ou separadas. Assim, a Arte, ou Técnica, pode ser divida em Conhecimento Prático e Conhecimento Técnico.
O Conhecimento Prático está relacionado com a prática; ou seja, alguém que sabe fazer algo de tanto praticar. Podemos considerar que o Conhecimento Prático é um conhecimento mais intuitivo. Por exemplo, é plausível pensar numa doceira, chamada Dona Maria, que faz saborosos doces munida apenas de sua intuição; ela se utiliza apenas da sua experiência e dos seus sentidos para fazer os seus doces, os quais são disputados a peso de ouro por uma grande freguesia.
O Conhecimento Técnico está relacionado com regras, leis e capacidade de passar objetivamente certo conhecimento. Podemos considerar que o Conhecimento Técnico é um conhecimento mais objetivo. Por exemplo, é plausível pensar numa doceira, chamada Chef Marie, que estudou nas melhores escolas de gastronomia da Europa, mas não faz doces tão gostosos quanto os da Dona Maria.
Obviamente, a Arte/Técnica se mostra com mais força quando se comunga Conhecimento Prático + Conhecimento Técnico. Todavia, para Aristóteles, nem sempre esses dois caminham juntos. Importante ressaltar que nesse nível de conhecimento o indivíduo é capaz de fazer generalizações. Além disso, o conhecimento ligado à Arte / Técnica é prático, no sentido de exigir uma finalidade; assim, a finalidade da Dona Maria pode ser ganhar dinheiro, enquanto da Chef Marie pode ser ganhar fama.
Por fim, a Teoria / Ciência é o conhecimento do "Real". Nesse nível de conhecimento se é capaz de lidar com conceitos e princípios abstratos. Com todas as ressalvas já levantadas nessa postagem, podemos entender que esse conhecimento se assemelha ao conhecimento verdadeiro presente na "A Alegoria da Caverna" de Platão. De certo modo, aquele que possui o conhecimento teórico ou científico é capaz de contemplar a Ideia do Bem, como no caso do prisioneiro liberto da alegoria que conhece o Sol e a verdadeira realidade. Importante ressaltar que, para Aristóteles, o conhecimento teórico ou científico não possui uma finalidade prática. É um conhecimento pelo conhecimento, ou "a busca do saber pelo saber". Nesse sentido, Aristóteles acreditava que o Conhecimento Teórico não pode estar "amarrado" a interesses mais imediatos, porque aí se perde, digamos, a liberdade filosófica.
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(Comentário do Prof. Paulo Roberto Araújo)