terça-feira, 31 de março de 2015

Hegel cita Aristóteles



O texto "Relação da filosofia com as outras partes do que se pode saber" é um dos capítulos da Introdução à História da Filosofia, de Hegel. Já disponível na xerox do terceiro andar do IFCS, é um texto complementar ao estudo da Metafísica de Aristóteles. Leia um trecho a seguir...


Note-se, antes de mais nada, que se requer num povo certo grau de cultura intelectual para que se possa filosofar. Diz Aristóteles que "o homem começa a filosofar depois de ter provido às necessidades da vida" (Metafísica, 1, 2). Visto a filosofia ser atividade livre, não egoística, e sobrevir com o desaparecimento das angústias e necessidades, o espírito deve estar temperado, elevado e revigorado em si mesmo. Importa que as paixões se encontrem amortecidas, e que a consciência tenha progredido ao ponto de poder pensar o universal. Pelo que, a filosofia pode considerar-se uma espécie de luxo, se por luxo entendemos aqueles gozos e ocupações que não concernem às primeiras urgentes necessidades exteriores enquanto tais. Deste ponto de vista, a filosofia é, sem dúvida, supérflua. Mas a dificuldade está em saber o que é o necessário e o supérfluo: do ponto de vista do espírito, a filosofia é o que há de mais indispensável.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Moral Divina





Não se deve escutar as pessoas que nos aconselham, sob o pretexto de que somos homens, de só pensar nas coisas humanas e, sob pretexto de que somos mortais, de renunciar às coisas imortais. Mas, na medida do possível, devemos tornar-nos imortais e tudo fazer para viver conforme à parte mais excelente de nós mesmos, pois o princípio divino, por mais fraco que seja pelas suas dimensões, prevalece, e muito, sobre qualquer outra coisa pelo seu poder e pelo seu valor. 
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Aristóteles, in 'Ética a Nicómaco'
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Trabalho em grupo




A DÚVIDA É O PRINCÍPIO DA SABEDORIA - Vale lembrar que a avaliação do curso é feita através de um trabalho que deve ser realizado em grupo. E esse trabalho deve ser uma dissertação com algo entre seis e dez páginas. 

Uma dica: não deixem para formar os grupos na ocasião em que o trabalho for definido. Basicamente, o grupo vai desenvolver um trabalho em cima do texto principal que está sendo estudado no curso. No caso, A Metafísica, de Aristóteles. Sendo assim, acho que seria conveniente que os grupos fossem formados desde já. E os alunos deveriam desenvolver tópicos e já começar a discutir informalmente entre seus pares. E, por que não, já começar a desenvolver textos que podem ser inseridos no trabalaho.

Não esqueçam que, no final do semestre, todos os alunos terão outras atividades, sejam provas ou trabalhos, relativas as outras matérias. Sendo assim, todos vão ficar com um acúmulo de coisas para fazer. Portanto, é conveniente formar os grupos desde já, e começar a preparar o trabalho com tranquilidade. 

O livro Alfa


O professor Fernando Santoro pede a seus alunos que, até a próxima aula, dia 31 de março, todos tenham lido a primeira parte da Metafísica, de Aristóteles. O livro Alfa. Vale lembrar que a xerox do texto completo já está disponível no terceiro andar do IFCS. 

O texto também pode ser encontrado em versão PDF Para acessar o PDF da Metafísica de Aristóteles basca clicar AQUI.


Também é possível encontrar o livro na biblioteca do IFCS.

Na próxima aula o professor Santoro pretende discutir tópicos do texto. E quer ouvir dos alunos suas reflexões sobre as questões levantadas por Aristóteles. 

"Todos os homesns têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até de sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas e, mais que todas as outras, as visuais."

terça-feira, 24 de março de 2015

Felicidade e virtude



Como, ao que parece, há muitos fins e podemos buscar alguns em vista de outros: por exemplo, a riqueza, a música, a arte da flauta e, em geral, todos aqueles fins que podem denominar-se instrumentos, é evidente que nenhum desses fins é perfeito e definitivo por si mesmo. Mas o sumo bem deve ser coisa perfeita e definitiva. Por conseguinte, se existe uma só e única coisa que seja definitiva e perfeita, ela é precisamente o bem que procuramos; e se há muitas coisas deste gênero, a mais definitiva entre elas será o bem. Mas, em nosso entender, o bem que apenas deve buscar-se por si mesmo é mais definitivo que aquele que se procura em vista de outro bem; e o bem que não deve buscar-se nunca com vista noutro bem é mais definitivo que os bens que se buscam ao mesmo tempo por si mesmos e por causa desse bem superior; numa palavra, o perfeito, o definitivo, o completo, é o que é eternamente apetecível em si, e que nunca o é em vista de um objecto distinto dele. Eis aí precisamente o carácter que parece ter a felicidade; buscamo-la por ela e só por ela, e nunca com mira em outra coisa. Pelo contrário, quando buscamos as honras, o prazer, a ciência, a virtude, sob qualquer forma que seja, desejamos, indubitavelmente, todas essas vantagens por si mesmas; pois que, independentemente de toda outra consequência, desejaríamos cada uma delas; todavia, desejamo-las também com mira na felicidade, porque cremos que todas essas diversas vantagens no-la podem assegurar; enquanto ninguém pode desejar a felicidade, nem com mira nestas vantagens, nem, de maneira geral, com vista em algo, seja o que for, distinto da felicidade mesma. (...) Todavia, ainda convindo conosco em que a felicidade é, sem contradita, o maior dos bens, o bem supremo, talvez haja quem deseje conhecer melhor a sua natureza. 
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 O meio mais seguro de alcançar esta completa noção é saber qual é a obra própria do homem. (...) Viver é uma função comum ao homem e às plantas, e aqui apenas se busca o que é exclusivamente especial ao homem; é por isso necessário pôr de lado a vida de nutrição e de desenvolvimento. Em seguida vem a vida da sensibilidade, mas esta, por sua vez, mostra-se igualmente comum a todos os seres - o cavalo, o boi, e em geral a todos os animais, tal como ao homem. Resta, portanto, a vida activa do ser dotado de razão. Mas neste ser deve distinguir-se a parte que não possui directamente a razão e se serve dela para pensar. 
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Além disso, como esta mesma faculdade da razão se pode compreender num duplo sentido, devemos não esquecer que se trata aqui, sobretudo, da faculdade em acção, a qual merece mais particularmente o nome que a ambas convém. E assim o próprio do homem será o acto da alma em conformidade com a razão, ou, pelo menos, o acto da alma que não pode realizar-se sem a razão. (...) Mas o bem, a perfeição para cada coisa, varia segundo a virtude especial dessa coisa. Por conseguinte, o bem próprio do homem é a actividade da alma dirigida pela virtude; e, como há muitas virtudes, será a actividade dirigida pela mais alta e a mais perfeita de todas. Acrescente-se também que estas condições devem ser realizadas durante uma vida inteira e completa, porque uma só andorinha não faz a Primavera, nem um só dia formoso; e não pode tão-pouco dizer-se que um só dia de felicidade, nem mesmo uma temporada, bastam para fazer um homem ditoso e afortunado. 
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Aristóteles, in 'Ética a Nicómaco'
Todos os homens desejam por natureza saber.

sábado, 14 de março de 2015



Sem amigos ninguém escolheria viver, mesmo que possuísse todos os demais bens; considera-se que até os homens ricos e aqueles que ocupam altos cargos e posições de autoridade precisam de amigos, ainda mais que todos, pois qual é a utilidade de tal prosperidade sem a oportunidade da beneficiência, exercida principalmente, e do modo mais louvável, em relação aos amigos? (...) Porém a amizade não é apenas útil, ela também é nobre; pois elogiamos aqueles que amam os seus amigos e ter muitos amigos é considerado algo valioso; pensamos que são as mesmas pessoas que são homens bons e são amigos. 
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Aristóteles, in 'Ètica a Nicómaco

A Metafísica de Aristóteles - Cap. 1

O objetivo desta postagem é fazer um brevíssimo comentário dos dois primeiros capítulos da obra "Metafísica" de Aristóteles. Também, a tentativa é fazer uma análise superficial, mas correta, dessa obra, visando criar um texto acessível para pessoas que, por uma razão ou outra, se interessaram pelo pensamento aristotélico. A "Metafísica" é uma das obras mais importantes do pensamento ocidental. Até hoje, essa obra possui pontos que ainda servem de base para certos debates filosóficos. Mas é bom alertar que essa obra possui algumas passagens muito difíceis e, até mesmo, obscuras. Felizmente, nosso intuito é analisar os capítulos I e II que não exigem maiores malabarismos filosóficos. - CAPÍTULO I - Aristóteles começa a sua obra com a seguinte afirmação: "Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer (...)". O Capítulo I da "Metafísica" é uma tentativa de explicar essa frase; mais, é uma tentativa de estruturar o que seja o conhecimento. Desse modo, o Capítulo I caminha pela epistemologia, ou teoria do conhecimento, aristotélica. Diferente de Platão, Aristóteles aceita que o conhecimento começa na sensação. Como visto, para Platão, na "A Alegoria da Caverna", o conhecimento sensível é falso ou ilusório, somente a alma racional é capaz de alcançar o verdadeiro conhecimento que não é capturável pelos nossos sentidos. Essa tese é combatida por Aristóteles que valorizará a experiência sensível como sendo o ponto de partida para formas de conhecimento mais complexas. A partir do texto "A Metafísica", podemos afirmar que o conhecimento passa por 5 etapas, num crescente de complexidade:
1) SENSAÇÃO 
2) MEMÓRIA 
3) EXPERIÊNCIA 
4) ARTE OU TÉCNICA 
5) TEORIA OU CIÊNCIA - Assim, a Sensação seria o tipo de conhecimento mais simples, enquanto a Teoria seria o tipo de conhecimento mais complexo. A Sensação está ligada aos nossos 5 sentidos (audição, olfato, paladar, tato e visão). Nossos sentidos propiciam o aparecimento d'algum tipo de sensação. Por exemplo, a dor decorrente de se colocar a mão no fogo nos avisa que o fogo é perigoso para a constituição física humana. A Memória é um passa além da Sensação. Podemos entender que a memória é a capacidade de agarrar alguma sensação passada. Por exemplo, a memória tenta "agarrar" a sensação da dor no momento que alguém percebe uma fogueira perigosamente próxima. Assim, a memória tem o poder de alertar sobre uma situação que pode gerar efeitos desagradáveis. Importante ressaltar que, para Aristóteles, alguns animais não racionais possuem memória, como, por exemplo, as abelhas. A Experiência pode ser entendida como a capacidade humana de aprender com a memória, criando relações desta com os dados sensoriais. Assim, a memória nos avisa que fogo é algo perigoso, mas a Experiência nos mostra maneiras de lidar com uma fogueira perigosamente próxima. Por exemplo, pode-se jogar água ou areia no fogo, pode-se cobri-lo com algum material grosso, pode-se, com algum risco, tentar atravessá-lo, ou, na pior das hipóteses, pode-se cometer suicídio porque há nada que se possa fazer para tentar salvar a própria vida. O conhecimento ligado à Arte possui duas características que podem se encontrar juntas ou separadas. Assim, a Arte, ou Técnica, pode ser divida em Conhecimento Prático e Conhecimento Técnico. O Conhecimento Prático está relacionado com a prática; ou seja, alguém que sabe fazer algo de tanto praticar. Podemos considerar que o Conhecimento Prático é um conhecimento mais intuitivo. Por exemplo, é plausível pensar numa doceira, chamada Dona Maria, que faz saborosos doces munida apenas de sua intuição; ela se utiliza apenas da sua experiência e dos seus sentidos para fazer os seus doces, os quais são disputados a peso de ouro por uma grande freguesia. O Conhecimento Técnico está relacionado com regras, leis e capacidade de passar objetivamente certo conhecimento. Podemos considerar que o Conhecimento Técnico é um conhecimento mais objetivo. Por exemplo, é plausível pensar numa doceira, chamada Chef Marie, que estudou nas melhores escolas de gastronomia da Europa, mas não faz doces tão gostosos quanto os da Dona Maria. Obviamente, a Arte/Técnica se mostra com mais força quando se comunga Conhecimento Prático + Conhecimento Técnico. Todavia, para Aristóteles, nem sempre esses dois caminham juntos. Importante ressaltar que nesse nível de conhecimento o indivíduo é capaz de fazer generalizações. Além disso, o conhecimento ligado à Arte / Técnica é prático, no sentido de exigir uma finalidade; assim, a finalidade da Dona Maria pode ser ganhar dinheiro, enquanto da Chef Marie pode ser ganhar fama. Por fim, a Teoria / Ciência é o conhecimento do "Real". Nesse nível de conhecimento se é capaz de lidar com conceitos e princípios abstratos. Com todas as ressalvas já levantadas nessa postagem, podemos entender que esse conhecimento se assemelha ao conhecimento verdadeiro presente na "A Alegoria da Caverna" de Platão. De certo modo, aquele que possui o conhecimento teórico ou científico é capaz de contemplar a Ideia do Bem, como no caso do prisioneiro liberto da alegoria que conhece o Sol e a verdadeira realidade. Importante ressaltar que, para Aristóteles, o conhecimento teórico ou científico não possui uma finalidade prática. É um conhecimento pelo conhecimento, ou "a busca do saber pelo saber". Nesse sentido, Aristóteles acreditava que o Conhecimento Teórico não pode estar "amarrado" a interesses mais imediatos, porque aí se perde, digamos, a liberdade filosófica. -


(Comentário do Prof. Paulo Roberto Araújo)

A Metafísica de Aristóteles - Capítulo 2

No capítulo II da "Metafísica", Aristóteles trata do papel do filósofo. Para o estagirita, uma preocupação filosófica central é tentar conhecer as causas primeiras, ou melhor, as causas mais fundamentais que originam todo o resto. É importante conhecer as causas primeiras porque, entre outros, essa pesquisa fornece as leis da realidade. A realidade última, ou mais fundamental, possui leis universais apreensíveis pelo conhecimento teórico. Por causa disso, Aristóteles considera que o Conhecimento Teórico ou Científico é superior ao Conhecimento Prático. Essas leis universais são verdadeiras e valem universalmente; por isso, essas leis fornecem as características de algo particular. Por exemplo, a Lei da Gravidade descoberta por Sir Isaac Newton pretende ser universal, ou seja, vale para qualquer objeto pesado existente no universo. Assim, não é necessário arremessar todas as pedras existentes para concluir que elas cairão. Nesse sentido a busca pelas causas primeiras é uma busca pela verdade, a qual só é alcançada se se pergunta pelo "por que" dos fenômenos, respondendo o "porquê" desses fenômenos. Essa busca pelos "porquês" causa admiração. Por isso, para Aristóteles, a Filosofia começa com um espanto que instiga a investigação. Aqui, Aristóteles se aproxima, mais uma vez, da Filosofia platônica. Vale lembrar que o prisioneiro liberto da "A Alegoria da Caverna" é movido pela curiosidade que proporciona admiração e espanto ao longo da subida rumo à saída da caverna. A busca das leis universais que estruturam a realidade, ou a busca pelas causas primeiras é o objeto da ciência filosófica. O conhecimeto teórico, como já colocado, não procura uma utilidade prática, porque a realidade última não se conforma aos nossos interesses práticos; a realidade última é soberana e absoluta. Finalizando, a busca pelas causas primeiras é a principal atividade filosófica. Podemos inferir pelo texto aristotélico, que essa atividade é uma combinação de Metafísica e Epistemologia. Também, essa atividade exige um alto grau de exercício racional. Para Aristóteles, nesse exercício se encontra a maior felicidade humana que é justamente filosofar. Na metafísica aristotélica, Filosofia é uma atividade divina.

(Comentário do Prof. Paulo Roberto Araújo)